quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Poço do Diabo

Poço do Diabo e Garganta ao fundo




Cachoeira do Poço do Diabo




Sagui no Mucugê

Chapada Diamantina, Bahia
Janeiro 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Paulo Ricardo, 20 anos, baiano

Paulo Ricardo tem 20 anos. Quando nasceu, o RPM era sucesso. Trabalha como segurança da tirolesa no Poço do Diabo. Costumava aparecer em todos os lugares. Aí, estávamos no Mucugê, depois de um banho incrível no Poço, e Paulo fazia flores de canudinho pra mim. Aos saguis que nos rodeavam, já havia oferecido umas tantas bananas.

Um dia, no restaurante da Zilda (comida caseira, lembra a da minha avó, também Zilda, também baiana, típica do interior do estado, feita na hora, deliciosa, mas o serviço mais lento que encontrei por lá), Paulo aparece, como sempre, do nada. Sentou, trouxe um sorvete de manga.

Conversamos. Contou que espera ir a Salvador ano que vem. Ir pra viver. Parece que tem uma moça lá. Perguntei o que pretende fazer na cidade, viver de quê, perguntas típicas de quem vem de São Paulo... Não sabe. Fiquei confusa. Como não sabe? Do que gosta? Não sabe. Estudar turismo? Afinal, trabalha com isso. Não, não completou a escola. Terminou o Primeiro Grau. Mas vai a Salvador para talvez ficar com uma moça? Talvez.

Enquanto conversávamos, mais uma cerveja, mais um cigarro, nada do almoço chegar, encosta-se em nossa mesa um senhor vestido com uma camisa estampada de adesivos. Um chamou bastante a atenção, dizia "Eu Voto no Lula". Esse senhor cantava músicas ao estilo de Vicente Celestino. Embriagado, esquecia-se da letra e trocava a canção. Ainda não sei bem o que queria. Talvez apenas nos apresentar seu talento vocal. Mais tarde perguntei a Paulo quem era aquele senhor, se o conhecia. Disse ser funcionário público, da prefeitura. Mas era dia útil, a tarde corria e ele lá, às 15h, já encachaçado?! Paulo rebate, "normal".

Pensei nele, em Paulo, e em seu desejo de ir a Salvador sem idéia do que fazer. Paulo é um menino doce, atencioso. Ele pode tudo! Mas... que futuro constrói hoje? Que condições encontra, recebe?

Bicho, meu encontro com ele embaralhou muita coisa! Senti o quanto vivo distante do mundo. A verdade do Paulo arrombou a minha porta.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Lá do coração da Bahia...

...o outro lado do meu sangue.

Morro do Camelo visto do Pai Inácio
Chapada Diamantina, Bahia
Janeiro 2008

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sobre antigas agendas...

Quando eu era uma menina pequenina, tentava escrever diários secretos. Era imperativo que fossem secretos, trancados à chave e muito bem escondidos. Tentava apenas. Acho que nunca terminei algum. Mais tarde, optei pela agenda. Essa, sim, funcionava como um autêntico diário. Ainda hoje guardo algumas, as mais bacanas. Naquela época, por volta dos meus 13/14 anos, dedicava horas a elaborar as capas com recortes de revistas e tudo aquilo que eu considerasse afim ao tema escolhido. E, claro, entre os temas estava o amor, representado pelos mais diversos beijos! Pra proteger a colagem eu aplicava "papel contact". Se lembro bem, havia entre nós, meninas, uma inocente competição. Adorávamos exibir nossas agendas! O mais divertido era o valor dado ao volume: quanto mais espessas, mais apreciadas e invejadas. Para isso, valia colar tudo: o papel da bala dada por um amigo ou os bilhetes passados durante a aula, o ingresso do cinema com as amigas até a etiqueta de uma roupa, presente de Natal.

Hoje já não tenho a pretensão de secretos diários, tampouco tenho a ânsia competitiva de gordas agendas. O que restou foi o desejo de salvar em palavras (e imagens) aquilo que tão rapidamente passa pela mente (e por meus olhos). Uma pequena tentativa de me deixar ser vista.

Se começo com o fado de Pedro Homem de Mello, é porque, nele, encontro muito de mim. Das Marias da minha vida, que o cantavam desde que sou uma menina pequenina... Da minha avó, Maria do Céu, que lavou muita roupa no rio e cantou nas aldeias de Portugal afora, cansou de lavar roupa no rio, da fome salazarista e atravessou o oceano, viúva, com uma filha em cada mão... Da minha mãe, Maria, só Maria, que canta o fado castiço das antigas tabernas e nunca esquece de onde veio... Foi por ele também que aprendi: Urze é uma pequenina flor de arbusto, da família das Ericáceas, de onde, afinal, vem o meu nome.


Povo que lavas no rio

De Pedro Homem de Mello

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.

Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.

Era o vinho que me deste
A água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.

Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.