quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Paulo Ricardo, 20 anos, baiano

Paulo Ricardo tem 20 anos. Quando nasceu, o RPM era sucesso. Trabalha como segurança da tirolesa no Poço do Diabo. Costumava aparecer em todos os lugares. Aí, estávamos no Mucugê, depois de um banho incrível no Poço, e Paulo fazia flores de canudinho pra mim. Aos saguis que nos rodeavam, já havia oferecido umas tantas bananas.

Um dia, no restaurante da Zilda (comida caseira, lembra a da minha avó, também Zilda, também baiana, típica do interior do estado, feita na hora, deliciosa, mas o serviço mais lento que encontrei por lá), Paulo aparece, como sempre, do nada. Sentou, trouxe um sorvete de manga.

Conversamos. Contou que espera ir a Salvador ano que vem. Ir pra viver. Parece que tem uma moça lá. Perguntei o que pretende fazer na cidade, viver de quê, perguntas típicas de quem vem de São Paulo... Não sabe. Fiquei confusa. Como não sabe? Do que gosta? Não sabe. Estudar turismo? Afinal, trabalha com isso. Não, não completou a escola. Terminou o Primeiro Grau. Mas vai a Salvador para talvez ficar com uma moça? Talvez.

Enquanto conversávamos, mais uma cerveja, mais um cigarro, nada do almoço chegar, encosta-se em nossa mesa um senhor vestido com uma camisa estampada de adesivos. Um chamou bastante a atenção, dizia "Eu Voto no Lula". Esse senhor cantava músicas ao estilo de Vicente Celestino. Embriagado, esquecia-se da letra e trocava a canção. Ainda não sei bem o que queria. Talvez apenas nos apresentar seu talento vocal. Mais tarde perguntei a Paulo quem era aquele senhor, se o conhecia. Disse ser funcionário público, da prefeitura. Mas era dia útil, a tarde corria e ele lá, às 15h, já encachaçado?! Paulo rebate, "normal".

Pensei nele, em Paulo, e em seu desejo de ir a Salvador sem idéia do que fazer. Paulo é um menino doce, atencioso. Ele pode tudo! Mas... que futuro constrói hoje? Que condições encontra, recebe?

Bicho, meu encontro com ele embaralhou muita coisa! Senti o quanto vivo distante do mundo. A verdade do Paulo arrombou a minha porta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Menino doce e gentil apesar da dureza da vida cotidiana. Um querido. Miló