segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sobre antigas agendas...

Quando eu era uma menina pequenina, tentava escrever diários secretos. Era imperativo que fossem secretos, trancados à chave e muito bem escondidos. Tentava apenas. Acho que nunca terminei algum. Mais tarde, optei pela agenda. Essa, sim, funcionava como um autêntico diário. Ainda hoje guardo algumas, as mais bacanas. Naquela época, por volta dos meus 13/14 anos, dedicava horas a elaborar as capas com recortes de revistas e tudo aquilo que eu considerasse afim ao tema escolhido. E, claro, entre os temas estava o amor, representado pelos mais diversos beijos! Pra proteger a colagem eu aplicava "papel contact". Se lembro bem, havia entre nós, meninas, uma inocente competição. Adorávamos exibir nossas agendas! O mais divertido era o valor dado ao volume: quanto mais espessas, mais apreciadas e invejadas. Para isso, valia colar tudo: o papel da bala dada por um amigo ou os bilhetes passados durante a aula, o ingresso do cinema com as amigas até a etiqueta de uma roupa, presente de Natal.

Hoje já não tenho a pretensão de secretos diários, tampouco tenho a ânsia competitiva de gordas agendas. O que restou foi o desejo de salvar em palavras (e imagens) aquilo que tão rapidamente passa pela mente (e por meus olhos). Uma pequena tentativa de me deixar ser vista.

Se começo com o fado de Pedro Homem de Mello, é porque, nele, encontro muito de mim. Das Marias da minha vida, que o cantavam desde que sou uma menina pequenina... Da minha avó, Maria do Céu, que lavou muita roupa no rio e cantou nas aldeias de Portugal afora, cansou de lavar roupa no rio, da fome salazarista e atravessou o oceano, viúva, com uma filha em cada mão... Da minha mãe, Maria, só Maria, que canta o fado castiço das antigas tabernas e nunca esquece de onde veio... Foi por ele também que aprendi: Urze é uma pequenina flor de arbusto, da família das Ericáceas, de onde, afinal, vem o meu nome.


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